Dada a crescente inquietação mundial acerca das mudanças climáticas, da segurança alimentar e da saúde do planeta, é imperativo e urgente que o setor primário se ajuste e adote práticas mais sustentáveis.
Inspirado no tema do evento "A Criar Raízes Sustentáveis para o Futuro", organizado pela UPPartner, e que celebra os 25 anos do Clube de Produtores do Continente, este artigo explora as principais tendências de sustentabilidade na produção agrícola, a legislação europeia relevante e lança um olhar sobre o futuro da alimentação sustentável.
Pilares para um Futuro Sustentável
Agricultura de Precisão
A tecnologia desempenha um papel central na promoção da sustentabilidade na agricultura. A integração de tecnologias como a IoT (Internet das Coisas), drones e inteligência artificial, tem permitido aos agricultores monitorar o cultivo de forma mais eficiente, economizar recursos hídricos e reduzir a utilização de pesticidas. Além disso, práticas de agricultura de precisão ajudam a maximizar a produtividade das terras, enquanto minimizam o impacto ambiental. De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations ? FAO, estima-se que estas práticas podem aumentar a eficiência do uso de recursos em até 20% e reduzir as emissões de CO2 em 15%.
Gestão Responsável da Água
A água é um recurso essencial para a produção agrícola e a sua gestão responsável é um dos pilares fundamentais da sustentabilidade ambiental. A agricultura irrigada continua a ser o maior utilizador de água a nível mundial, sendo responsável por 70% do consumo de água em todo o mundo e mais de 40% na maioria dos países da OCDE. Daí a importância de práticas de conservação de água, como a irrigação eficiente e as práticas regenerativas, concebidas para respeitar os ecossistemas naturais e os ciclos de água. Além disso, a gestão de poluentes e o tratamento de efluentes agrícolas são aspetos cruciais para preservar a qualidade da água e manter ecossistemas aquáticos saudáveis.
Agricultura Regenerativa
A agricultura regenerativa é um conceito que ganha cada vez mais destaque na procura por sistemas agrícolas sustentáveis. Até 40% das terras do planeta estão degradadas, o que afeta diretamente metade da humanidade e ameaça cerca de metade do PIB global (§44 triliões). Isto amplia a necessidade de adotar práticas agrícolas que regenerem o solo e promovam a biodiversidade, o que inclui a rotação de culturas, a utilização de adubos orgânicos, o plantio direto e a eliminação de produtos químicos nocivos. Estas abordagens não só melhoram a saúde do solo, mas também aumentam a resiliência das culturas e reduzem o desgaste.
Redução de Emissões de Metano
O metano é um gás de efeito estufa potente que é libertado em grande quantidade na produção agrícola, especialmente na criação de gado e no cultivo de arroz. É responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura global desde a Revolução Industrial. É por isso importante diminuir essas emissões, ao adotar técnicas de redução do desperdício e perda de alimentos, gestão de resíduos produzidos por animais e adaptação a dietas baseadas em vegetais. A redução do metano não contribui apenas para a mitigação das mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública.
Economia Circular na Agricultura
A extração de materiais virgens continua a diminuir o nível de circularidade global: de 9.1% em 2018 a 7,2% em 2023. Estima-se que 40% de todos os alimentos produzidos no mundo são perdidos ou desperdiçados do campo ao prato, representando cerca de 10% das emissões globais de GEE, o que enfatiza a importância da economia circular aplicada à agricultura. Práticas como a reutilização de materiais, a reciclagem de nutrientes e a minimização de resíduos, além de reduzirem o impacto ambiental da produção agrícola, também criam oportunidades para inovações que beneficiem a economia e o meio ambiente.
Adoção de Energia Renovável
O sistema agroalimentar consome cerca de 30% da energia global. Desta forma, a transição para fontes de energia renovável, como painéis solares, turbinas eólicas e biomassa, desempenha um papel fundamental na promoção da agricultura sustentável. A utilização de energias limpas para além de reduzir as emissões de carbono associadas à agricultura, também pode proporcionar autossuficiência energética, fornecendo eletricidade limpa para irrigação, armazenamento e processamento de culturas. A eficiência energética reduz os custos operacionais e aumenta a viabilidade financeira das explorações agrícolas, permitindo que os agricultores invistam em práticas sustentáveis, como a utilização responsável da água e a agricultura de conservação.
Agricultura de conservação
Essa abordagem minimiza a perturbação do solo, evitando o cultivo intensivo e a erosão, o que preserva a qualidade e fertilidade do solo a longo prazo. Além disso, a agricultura de conservação promove a retenção de humidade, reduzindo a necessidade de irrigação, e controla o crescimento de ervas daninhas, o que diminui a dependência de herbicidas. Essas práticas não só aumentam a produtividade das culturas, como também reduzem o consumo de recursos naturais, além de minimizar a poluição da água e a liberação de gases de efeito estufa. Uma pesquisa realizada pela Food and Agriculture Organization (FAO) concluiu que a agricultura de conservação pode levar a um aumento na produtividade das culturas até 20% ou mais. Além disso, um estudo do Serviço de Conservação de Recursos Naturais dos Estados Unidos (NRCS) provou que pode reduzir a erosão do solo em até 90%, evitando a perda de solo fértil.
Legislação Europeia e o Compromisso com a Sustentabilidade
A União Europeia tem estado na vanguarda da legislação ambiental e da sustentabilidade em todo o mundo. No que diz respeito à produção agrícola, a UE implementou uma série de regulamentos e diretrizes para promover práticas mais sustentáveis. Um exemplo notável é a Estratégia do Prado ao Prato da UE, que visa tornar a produção e o consumo de alimentos mais sustentáveis. Esta estratégia inclui metas ambiciosas para 2030, como reduzir o uso de pesticidas e antibióticos, aumentar a produção orgânica, promover a agricultura regenerativa e diminuir o desperdício de alimentos. Também destaca a importância da rotulagem de alimentos e a promoção de dietas mais saudáveis e sustentáveis.
O Futuro da Alimentação
O futuro da alimentação na Europa dependerá da capacidade de equilibrar a necessidade de alimentar uma população em crescimento com a necessidade de proteger o meio ambiente. Isto exigirá uma transformação profunda na forma como produzimos e consumimos alimentos.
Nesse contexto, a inovação desempenha um papel fundamental. A agricultura de precisão, a tecnologia agrícola avançada e a produção de alimentos alternativos, como a carne à base de plantas, o consumo de insetos e a carne cultivada em laboratório, têm o potencial de revolucionar a indústria alimentar. No entanto, é importante que a regulamentação europeia esteja alinhada com a inovação, incentivando soluções sustentáveis e garantindo a segurança alimentar.
Além disso, a educação e a conscientização desempenham um papel crítico no futuro da alimentação. Os consumidores europeus estão cada vez mais interessados na origem e na qualidade dos alimentos que consomem. A legislação europeia pode desempenhar um papel crucial na garantia de que os consumidores tenham acesso a informações claras e precisas sobre os produtos alimentares, permitindo-lhes fazer escolhas informadas e saudáveis.
Conclusão
Em resumo, todos estes assuntos convergem para um futuro em que a sustentabilidade ambiental e alimentar são essenciais. A legislação europeia desempenha um papel fundamental na promoção de práticas agrícolas responsáveis e na garantia de que o sistema alimentar europeu seja mais saudável e menos prejudicial ao meio ambiente. A aplicação dessas regulamentações, juntamente com a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, é fundamental para garantir que a Europa e o mundo avancem em direção a sistemas alimentares que respeitem o planeta, forneçam alimentos saudáveis e assegurem a prosperidade das gerações futuras. A colaboração entre reguladores, agricultores, cientistas, retalhistas e consumidores será fundamental para criar uma abordagem abrangente que promova um sistema alimentar sustentável e inclusivo, alinhando-se com as necessidades do meio ambiente e da sociedade. O trabalho contínuo neste sentido é essencial para alcançar um equilíbrio entre o abastecimento de alimentos suficientes, a proteção ambiental e o respeito pelas normas legais, contribuindo para um futuro onde a alimentação sustentável seja a norma, não a exceção.