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Cego é aquele que não quer ver

por Marisa Gomes, Senior Creative Copywriter

As pessoas conectam-se com histórias reais e interessantes. Sempre assim foi ao longo da história da humanidade. Andaremos cegos ao ignorarmos o poder do storytelling, nos negócios e na vida?

Cego é aquele que não quer ver

Há uma velha história sobre David Ogilvy (quem, aliás, dispensa apresentações por ter sido um dos melhores publicitários de todos os tempos) que posiciona a narração de histórias (vulgo storytelling) como uma forma de criar empatia.

O poder das palavras

Certa manhã, a caminho do trabalho, Ogilvy viu um mendigo com uma placa junto a si. A placa dizia algo como: "sou cego, ajudem-me". O seu copo de esmolas encontrava-se vazio. Perante este cenário, Ogilvy parou e, ao invés de deixar algumas moedas no copo do homem, decidiu agarrar a placa e reescrever a mensagem. Ao final do dia, quando saiu do trabalho e ao passar pelo mesmo local, o copo do sem-abrigo estava repleto de dinheiro. O que teria Ogilvy escrito na placa?  Ao invés de transmitir uma informação (sou cego) e incitar a uma ação (ajudem-me), a placa contava uma história. Em poucas palavras, Ogilvy invocou uma imagem na mente de quem por aquela rua passava que mexeu com a sua imaginação, emoções e memórias. A placa do sem-abrigo dizia agora: "é primavera e eu sou cego". Ao lerem a placa, as pessoas imediatamente trouxeram à memória as suas próprias lembranças da primavera - da beleza do amanhecer ao despertar das flores, dos convívios ao sol aos dias mais compridos. Pensaram em tudo isto e no facto de o mendigo se encontrar privado de usufruir disso mesmo.

Com mais uma vírgula ou menos uma vírgula, este headline (a história em si) eternizou - ou como diz a internet: never gets old. De tempos a tempos, cruzamo-nos com esta narrativa nas redes sociais. O vídeo ilustrativo, viral há anos, continua a somar para lá de quatro dígitos em reações. E nós, como se da primeira vez se tratasse, assistimos, expectantes, pelo desfecho. É mais forte do que um qualquer ímpeto em fazer scroll-down e rumar ao próximo vídeo - mesmo que o próximo seja fofo e gracioso, quiçá, sobre pandas gigantes a mastigar bambu ou em sucessivos trambolhões, como de resto a espécie gosta de nos entreter na Internet.


O que faz uma boa história

Façamos uma pausa para refletir sobre o porquê de este tipo de histórias despertar os nossos sentidos. Ok, ok, a resposta mais óbvia passa por recordarmos tratar-se de uma função ativa e involuntária do cérebro humano - o qual funciona a partir de estímulos, visuais, auditivos, e por aí adiante.

No entanto, não nos concentremos na dimensão anatómica, porém, na dimensão abstrata que é a curiosidade. Quando confrontados com narrativas envolventes, parece não haver grande coisa que possamos fazer para a conter a curiosidade. Sim, é precisamente isso que estão a pensar: vendemo-nos facilmente ao storytelling. Ao bom storytelling. Ao que nos toca, agarra e mobiliza.


Storytelling como ferramenta (infalível) de vendas

Enquanto técnica de comunicação, o storytelling tem a capacidade de transformar uma marca em algo muito mais do que apenas produtos ou serviços. No mundo dos negócios, o storytelling tem múltiplas aplicações, podendo ser utilizado para:

_Contar a história da empresa/marca e ajudar a construir identidade;
_Apresentar casos de sucesso, aumentando a confiança e credibilidade no negócio;
_Apresentar soluções e desconstruir problemas (sobre produtos, processos, etc.);
_Transmitir os valores ou a missão da empresa, entre outras.

No cenário atual em que vivemos, em que a concorrência é feroz e as marcas competem pela atenção dos consumidores, é imperativo contar histórias cativantes para construir marcas memoráveis.

Dito isto, vamos continuar a não querer ver o que está bem diante dos nossos olhos?

Vendemo-nos facilmente ao storytelling. Ao bom storytelling. Ao que nos toca, agarra e mobiliza.

Cego é aquele que não quer ver
por Marisa Gomes, Senior Creative Copywriter
por Marisa Gomes, Senior Creative Copywriter | 12 outubro 2023
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